sábado, 21 de outubro de 2017

Pânico no aeroporto

Já ouviram falar no efeito placebo? Aquele em que algo sugere um benefício à vossa mente e vocês pensam que estão a adquiri-lo automaticamente? Ou seja, a prova provada que estão mais passados dos cornos que o Zé Maria do Big Brother? Sabem? Então, esqueçam. Não vou falar dessa merda porque isso não interessa a ninguém!
Aqui há uns anos, uns valentes, fui despedir-me de uma pessoa ao aeroporto. Cheguei cedo, talvez uma hora antes do embarque. Gosto de chegar antecipadamente aos locais para não ser surpreendido por nenhuma conspiração das estrelas para me virar os planos do avesso. Temperatura agradável, um bonito dia de sol em Lisboa, manhã relativamente tranquila naquela zona da cidade. Portanto, tudo para correr bem, certo? Errado! Estamos a falar de mim, é preciso lembrar?
Acabadinho de assentar os cascos nas imediações da infraestrutura aeroportuária, permaneço um bom bocado a apreciar a azáfama de uma das grandes portas de entrada na capital: turistas, taxistas, movimento intenso de carros, o normal. Por ali estava, já a ganhar raízes, quando o telemóvel tocou:
- 'Tou? Então? Onde estás?
- Estou aqui fora, à espera.
Hum, então estás aqui fora? Mas não te vi chegar... Devia estar distraído, não importa. Não deves estar longe de mim, digo eu. Começo a rodar o pescoço para a esquerda e para a direita, tipo radar. Não a via. Mau, temos bonecos!
- Cá fora? Mas não te estou a ver.
- Então mas estás onde?
- Estou cá fora também...
- Então não podes estar no mesmo sítio que eu!
Oh, a rapariga está parva! Como é que não estávamos no mesmo sítio? Então isto não é o Aeroporto de Lisboa? Então não estamos cá fora? Então isto não está cheio de taxistas desejosos de chupar uns euros a mais aos camones para estourar no Intendente esta noite? Que raio de conclusão vinha a ser aquela? Teimoso como um burro como consigo ser, insisti:
- Então não estamos? Temos que estar! Não estás cá em baixo?
A resposta do outro lado da linha quase me arrancou o nariz de tão violenta que foi:
- Cá em baixo onde? Eu estou é cá em cima!
Todos já passámos por isto pelo menos uma vez na vida. Aquela sensação do "eish!, está tudo fodido a partir deste momento!". Porque é que ninguém me avisou que existia uma plataforma para embarcar e outra para desembarcar e que elas não se encontram uma ao lado da outra? Olha que merda, não tenho de saber tudo! Passo aqui todos os dias, mas nunca parei, também não trabalho aqui e não penso em atacar esta porcaria à bomba para lhe conhecer todos os cantos. Tentei mostrar-me o mais calmo que conseguia perante a adversidade. Estava num local desconhecido, provavelmente bastante longe da pessoa de quem me vinha despedir e o tempo começava a pressionar-me. Basicamente, tudo engatado. Mas gajo que é gajo nunca se encolhe e vai à procura da solução, nem que seja preciso inventá-la.
- Aí em cima? Então espera aí que eu não tardo a chegar!
botão de desligar a chamada pressionado, telemóvel no bolso para não me chateares mais a marmita até eu chegar e vá de me pôr a andar em passo apressado na direcção que me parecia a correcta. Vocês já estão a pensar: enganou-se, claro! E depois riem-se muito e gozam comigo. Mas agora quem goza com vocês por terem a mania que são espertalhões sou eu! Não estava nada enganado! Tinha que seguir pela direita e foi pela direita que fui! Percebi que era o único caminho que podia percorrer se não queria voltar para casa a pé. À medida que ia avançando ia igualmente tentando vislumbrar um acesso que me permitisse atingir o patamar cimeiro. Umas escadas, um elevador, um teleférico, uma cabine de teletransporte, uma merda qualquer! Eu quero é chegar lá a cima e depressa, senão a rapariga vai-se embora no avião e eu não a vejo! Mas nada, não via nada!
A esta altura já o Sol estava encoberto por nuvens cinzentas. Estava montado o cenário perfeito para mais um momento de desgraça na minha vida. Prestes a assumir a humilhante derrota, pus a mão ao bolso para retirar o telemóvel e fazer a chamada que não tinha coragem de fazer. O tempo estava a esgotar-se e não havia forma de dar volta à situação. Tinha de lhe dizer que partisse, que eu era um banana e que não via forma de contornar a situação.
É nessa altura que surge à minha frente um homem vindo sabe Deus (no caso de existir) de onde. Não sei qual é a aparência dos anjos (no caso de existirem), mas naquela altura tinha a certeza que era a de um homem franzino de meia-idade.
- Olhe, desculpe! Como é que eu chego ao balcão das partidas?
O homem apontou com o polegar para trás das costas:
- É só subir estas escadas e depois virar à sua direita. São mais ou menos trezentos metros a partir daí.
Olhei por cima do ombro do senhor, queixo caído. Estavam ali umas escadas? Tinha-me esquecido de desligar o "toupeira mode", é evidente. Agradeci ao homem, já que tinha acabado de me salvar a vida... ou começado a destrui-la...
Pausa dramática na narrativa. Já ouviram falar no efeito borboleta? Aquela teoria que defende a interligação à escala universal, onde um bater de asas de uma borboleta aqui desencadeia uma tempestade monstra na China? Vá, burricos, não tenham medo de assumir a vossa fraqueza cultural e preparem-se para uma demonstração prática desta teoria!
Galgo a escadaria de dois em dois, viro à direita quando chego ao final e largo a correr à maluca, passada larga, estilo Usain Bolt, mas em branco, numa corrida para a glória. Tinha percorrido os primeiros cem metros quando aconteceu. Vindo sabe o raio que o parta de onde, surge um carrinho de transporte de bagagens mesmo à minha frente. Aquele filho da puta era o Chucky dos carrinhos de bagagens, juro-vos! Ganhou vida e atravessou-se à minha frente para me tramar. Vi-o a tempo de não tropeçar nele e voar dez metros em frente, mas não consegui evitar pôr-lhe um pé em cima. Nao voei dez metros para a frente, mas voei dois para o lado direito. Palhaçada das grandes, digna de figurar nos tralhos do ano em Portugal. Aterro em cima da minha anca direita e sinto uma dor que facilmente entregaria ao melhor dos meus amigos. Sim, porque coisas destas são oportunidades maravilhosas para demonstrarmos o quão altruístas conseguimos ser.
Ponho-me em pé sem soltar um ai que fosse e olho para a perna. Hum, partida não estás. Senão, estavas mais empenada que a do Roberto Carlos. Siga o Baile! Faltam duzentos metros e ninguém viu!
Reinicio a corrida, agora num estilo Mantorras, e começo a ver a entrada da plataforma das partidas. Lá estava ela, a ver-me correr que nem um louco (um louco coxo) e com um ar de quem estava com vontade de encarar comigo a murro. Diplomático como sou, comecei a sorrir pouco antes de chegar perto dela e limitei-me a dizer:
- Porra, quase que não chegava cá, hã?
Abracei-a e ficámos ali por uns momentos. Senti então um dedo tocar-me no ombro. Desfaço o abraço e volto-me para ver o que se passava. Tinha agora à minha frente um agente da PSP com ar de poucos amigos a medir-me de alto a baixo:
- Então você atirou um carrinho contra a lateral de um autocarro e fugiu?
Afinal alguém tinha visto o malho olímpico e, sim, sim, o Chucky-trolley, aquele cabrão, ainda não estava contente por me ter feito dar três piruetas no ar e quase deixar-me aleijadinho. Pela explicação do polícia, aquele corno tinha saído desembestado debaixo do meu pé é e ido espetar-se no autocarro ali parado. Expliquei-lhe que vinha atrasado e que continuei a correr sem querer saber de mais nada, mas que assumia a responsabilidade do sucedido. O homem viu sinceridade na minha cara de parvo e deu-me instruções para permanecer ali, pois teria de ser identificado se o autocarro tivesse algum dano.
Efeito borboleta, remember? Quanto custaria a brincadeira de ter pisado aquela alma danada de ferro e rodinhas? Já me via a limpar sarjetas como trabalho comunitário quando o agente voltou e disse que, para minha sorte, não havia nenhuma amolgadela na chapa robusta do autocarro.
- Teve sorte. Se fosse um carro...
Se fosse um carro, não, homem! Foi mesmo um carro! Ou melhor uma amostra de carro frustrado por não ser mais do que isso! Daquela espécie de bicho que só anda aí para dar cabo dos cornos às pessoas! Era isso que ele era!
Dali a pouco tive de me despedir da jovem. Partiu, com a noção plena que deixava para trás um cromo que colecionava episódios embaraçosos na vida, como aqueles colecionadores que nunca se cansam de ter mais e mais Mont Blanc, mais e mais Ferrari ou mais e mais... carrinhos de transporte de bagagens.

18 comentários:

  1. Um lápis roído que escreve melhor do que a maioria dos Mont Blanc (eu sou tipo Mont Blanc), sem Ferrari.

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    1. Nunca mais respondes aos nossos comentários, lápis roído.
      Será que foste despedir-te de outra moça ao aeroporto de Lisboa? Conta-nos o que aconteceu.

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    2. A grafite é de boa qualidade =P Obrigado. Tu és uma Mont Blanc que levita. Não precisas de Ferarri's =P
      Não, não fui despedir-me de ninguém desta vez. Fui esperar outra, mas percebi que não era esta a minha noite de sorte ainda. Os vôos provenientes de Framkfurt não traziam quem eu esperava =P

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    3. Tu és um romântico, RR.

      Esquece a cidade de Johann Wolfgang Goethe.

      Recebe a "flor azul" da amiga de Dusseldorf, ou, mais precisamente de Novalis.

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    4. Um D. Juan das berças um tanto ou quanto inconsequente, queres tu dizer =P
      Obrigado, querida amiga. Esperava o vôo de Frankfurt porque, tanto quanto sei, Dusseldorf não possui aeroporto. Um beijo soprado do teu Portugal

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    5. Que afronta, RR!!!

      Düsseldorf possuí o melhor aeroporto da Alemanha.

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    6. Oh, sei lá eu... Nunca aí fui! Tenho desculpa.

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    7. Peco por regionalismo, RR

      O aeroporto internacional de Düsseldorf não é o maior, nem o mais importante, mas para mim o mais bonito.

      Quando vôo com a Lufthansa faço escala em Frankfurt.

      Festinhas ao Óscar 🐕

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    8. Li a tua ida ao aeroporto à espera do avião de Frankfurt como uma metáfora.

      Era absurdo ires ao aeroporto à espera de um avião de FRANKFURT, quando a "alma alemã" acabou de aterrar em Düsseldorf.

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  2. Se tivesses tropeçado, chegavas mais rápido e travavas o carrinho a tempo de ir embater no autocarro ;)

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    1. Ya, isso acontece bué... Nas filmagens do Matrix, foram para aí umas duzentas vezes =P

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  3. NOTA DE AGRADECIMENTO: » Por motivos alheios à nossa vontade, fomos obrigado a mudar o linke do nosso blogue: Deliriosamoresexo. Por isso agradecemos que nos contiunuem a visitar em:
    .
    https://seducaodeamoreerotismo.blogspot.pt/
    .
    O mesmo blogue, um novo linke. A administração agradece a substituição - ou colocação, caso assim o entenda/m - do novo linke na vossa caixa afecta a outros blogues. Obrigado de coração.

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  4. Que filme xD. Mas olha, tiveste sorte no meio de tanto azar xD.
    Tu escreves mesmo bem, como eu me divirto a ler os teus posts :).
    Beijinhos,
    Cherry
    Blog: Life of Cherry

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    1. Então não? O que me vale é a IMENSA sorte que nunca me larga! =P
      Obrigado. E de borla, que ainda é melhor =P Beijinhos

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  5. Pede um Red Bull e paga do teu bolso. Aqui não há folga orçamental =P

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  6. O nosso blogue teve que se sujeitar à alteração no linke derivado a problemas alheios à nossa vontade.

    Este é o novo linque: https://prazeresecarinhossensuais.blogspot.pt/


    Tínhamos muito gosto que o substituísse. Agradecemos de coração e desculpe o incomodo.

    Um Domingo com muito amor. :)

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Se vêm para contestar, fiquem quietinhos e caladinhos. Isto não é minimamente democrático e quem manda aqui sou eu! Por isso, só são permitidos afagamentos de ego, mas com jeitinho! Demasiada fricção deixa-me o pelo eriçado, tipo gato assanhado. Não é bonito!