quarta-feira, 24 de março de 2021

Façam as vossas apostas

Ocorreu no passado sábado em Lisboa um... como lhe chamar?!, ajuntamento de desmiolados? Reunião de chalupas? Encontro de malta que não fecha bem a mala? Rendez-vous de quadrúpedes que insistem no esforço de andar sobre as patas traseiras? Não, não que eu não quero ser ofensivo para quem esteve presente numa tão impressionante manifestação de chanfrados, acéfalos e deformados mentais que acha que a Covid-19 é coisa que não se deve valorizar, assim como o uso da máscara para evitar a sua propagação constitui uma tremenda restrição das liberdades, direitos e garantias de cada um deles.

Foram então três mil negacionistas da pandemia que desfilaram alegremente pelas ruas da capital, formando uma bonita manada de búfalos que andam equivocados quanto à sua verdadeira natureza. Nela podiam ser encontradas algumas figuras que já foram públicas e decidiram fazer o seu come back com recurso à estupidez.

Pois que tivemos uma Sandra Celas, a actriz cujo píncaro da fama pessoal foi atingido com Inspector Max e que claramente tem menos faro e inteligência que o pastor alemão que era estrela da série, acompanhada por Adelaide Ferreira, cantora que nunca teve o papel principal que dizia ser dela e só dela, e por Nuno Barroso, vocalista dos Além-Mar, cuja cabeça não tem além de dez neurónios.

Pessoal, deixem-se de merdas. A Covid, para quem não percebeu ainda, é coisa séria e se as medidas impostas são bastante limitativas é porque o perigo com que nos deparamos não é propriamente reduzido. Usem máscara enquanto o seu uso for necessário para reduzir o risco de contágio e tomem a vacina quando forem chamados para a vossa vez, mesmo que estejam desconfiados quanto à vacina da AstraZeneca. Mesmo que temam ficar com a boca à banda depois das notícias acerca dos coágulos sanguíneos causados pela vacina do consórcio anglo-sueco, mais vale passar para a banda dos vacinados. Se tiverem a sorte de serem vacinados com a da Pfizer, tanto melhor. Não faz sentido que a farmacêutica americana tenha mais dificuldades em levantar-vos um braço para vos fazer levar uma vacina do que teve a levantar a pila de milhões de homens por esse mundo fora com o Viagra.        

segunda-feira, 22 de março de 2021

Idiomas custosos de alcatracifar

Remexendo no caixote dos rascunhos amarfanhados virtualmente, deparo-me com este datado apontamento que, vá o Zé dos Anzóis saber porquê, nunca vos entrou pelas vistas adentro. Um favor que vos fiz? Certamente. Porém, a minha bondade assume características que a minha parvoíce nunca adquirirá: tem limites.

Por isso, com um cheirinho a retro e, se inspirarem bem e não estiverem com Covid, a mofo, cá vai.


 

Chegou a febre do Mundial de futebol e com ele mais 247 programas de análise a juntar aos 492 que já existiam. Resultado: não há cão nem gato que não bote faladura sobre o mediático evento.
No meio de tanta táctica dissecada ao milímetro, de tanta avaliação psicológica aos jogadores depois de terem visto Vladimir Putin perto de um terreno relvado sem vontade de invadi-lo, da medição da distância percorrida por uma cuspidela de Ronaldo, eis que este que vos escreve se dedica ao que realmente interessa no futebol: expressões desse magnífico idioma que é o futebolês e que me deixam encanitado.
Reparem nesta: "Jogador X é uma pedra influente".
Comentadeiros e paineleiros deste país, vocês têm de se decidir! Ou bem que é uma pedra ou bem que é influente! "Ambas as duas" (a minha reverência, doutor Jorge Jesus) é que não dá! Coisas inanimadas que influenciam? Estamos no domínio da snifadela de coca ou quê?

 

Nota final: se se notar muito que estou sem merda nenhuma sobre a qual escrever, não é pura ficção. É o retrato fiel do meu vazio criativo. Já se fizeram todas as piadas sobre o Nuno Graciano, skinheads e programas de apanhados. Não vale a pena continuar a bater no carequinha, que, neste momento, é tão imoral como bater no ceguinho.

domingo, 14 de março de 2021

Indelicadezas justificadas pela fruta fora da época

A semana que passou fica marcada pela tomada de posse do novo presidente da República que, sim, sucede ao anterior, mas, na verdade, não sucede coisa nenhuma porque é o mesmo.

Marcelo Rebelo de Sousa iniciou oficialmente o novo mandato presidencial, que nos garante mais cinco anos de afectos, ainda que limitados nesta fase pelo bicho.

Numa cerimónia mais espartana, condicionada, pois claro, por uma tempestade de areia proveniente do Sahara e uma chuva de gafanhotos do Vesúvio... Já não vos engano, não é? Todos sabemos que a cerimónia não foi tão faustosa porque a Assembleia da República está a sofrer obras de requalificação, o que impede grandes ajuntamentos no seu interior. Diz que estão para lá a pôr um soalho flutuante que é muito jeitoso e que é uma maravilha para as alergias. Aquelas alcatifas já não estavam com nada.

Desta cerimónia, para além de termos o Ferro Rodrigues a discursar durante mais tempo que o próprio recém-empossado, destaca-se uma polémica ao bom estilo das tricas palacianas a que este muy nobre cantinho à beira-mar plantado nos habituou ao longo de quase 900 anos de história.

Cavaco Silva, antecessor do antecessor do actual presidente (que, já percebemos, é o mesmo), decidiu abandonar a cerimónia antes da sessão de cumprimentos, não tendo assim felicitado, formal e publicamente, Marcelo pela reeleição. Para quem prefere uma linguagem mais erudita, Cavaco abalou à papo-seco, saiu à francesa, pirou-se sem dar uma bacalhauzada a Marcelo.

Muito se tem especulado acerca do motivo que fez o antigo chefe de Estado evitar a sessão de cumprimentos. Todavia, porém, contudo, no entanto e todas as outras conjunções adversativas que conhecem (devem, devem...), só eu estou a par dos factos que sustentam a verdade sobre o sumiço de Cavaco. Eu e vocês, se cometerem a proeza de continuarem a ler esta parv... perdão!, este texto.

Cavaco foi embora antes do encerramento da cerimónia porque a Maria já tinha o almoço ao lume e para a sobremesa estava prometida uma enorme fatia de bolo-rei, que, nesta época do ano, está tal e qual o professor: seco, amargo                                                         e fora da validade.            

segunda-feira, 1 de março de 2021

Rendido à ficção netflixiana

Como é habitual acontecer nesta altura do ano, teve lugar na última noite a entrega dos Globos de Ouro. Aquela que costuma ser a antecâmara da cerimónia dos Óscares e um bom barómetro para perceber quais as reais aspirações dos favoritos a arrecadar as mais famosas estatuetas do mundo decorreu dentro dos termos a que já nos habituámos a descrever como o "novo normal". Apresentada por Bárbara Guimarães e João Manzarra, a cerimónia contou com... não? Pois não... Era só para ver se estavam atentos. 

Apresentada por alguém que não sei quem foi e que certamente será tão desinteressante que nem mereceu que me desse ao trabalho de pesquisar de quem se trata, a cerimónia atribuiu para ali globos de latão amarelo que foi um disparate. Sim, ou querem que acredite que aquilo é tudo ouro a sério? Só falta dizerem-me que o coronavírus não foi criado num laboratório chinês, que a Terra é redonda e que o Neil Armstrong pôs mesmo os cotos na Lua. Pfff... Ah, e o 11 de Setembro? Claro que foi um inside job, seus totós!

Nas categorias de televisão, a Netflix limpou tudo com uma perna às costas. A série The Crown, que retrata o reinado de Isabell II ao longo das décadas do século passado e todas essas outras porcarias que já viram escritas por aí em milhentas reviews de reputados blogs com metade do interesse deste, foi a grande vencedora, arrebatando os prémios de Melhor Drama, Melhor Actriz (Emma Corrin, interpretando Diana), Melhor Actor (Josh O'Connor, como Carlos), Melhor Actriz Secundária (Gillian Anderson, no papel de Margaret Thatcher) Melhor Penteado (para a Olivia Colman, na pele de Isabel II), Maior Banana (atribuído ao intérprete da personagem do príncipe André), Melhor Trepador do Palácio de Buckingham (bem dado ao gajo que fez de Michael Fagan num episódio qualquer) e Melhor Empregado de Limpeza (reparem no cuidadinho para não haver aqui atribuições de papéis de género. Chupem, Capazes!). A série de Peter Morgan só perdeu na categoria de Melhor Lareira. Esse galardão ficou para a série Desejo Obscuro, que é melhor a aquecer que qualquer outra coisa que já tenham usado no Inverno... Bem, adiante...

A série britânica tem tido um enorme sucesso e todas as quatro temporadas que a compõem foram devoradas por inúmeros fãs que foi ganhando ao longo do tempo. Entra agora na sua recta final, com a quinta temporada a trazer o epílogo da trama que envolve os Windsor.

Spoiler alert! A partir daqui, vou fazer revelações acerca da quinta temporada. Portanto, quem não quiser saber antecipadamente o que se vai passar, que faça o favor de se pôr na alheta e de não me chatear por falta de aviso. 

É assim... Não sei se estão preparados para esta, mas é bom que sejam fortes. Têm a certeza que aguentam firme a panada? Se quiserem, dêem essas vossas mãos suadas e sapudas entre vocês que o problema depois é vosso. Cá vai... 

Diz que a Diana vai morrer de uma forma trágica e eu tenho quase a certeza que é num acidente de viação.