segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Novidades velhinhas da Soeiro Pereira Gomes

Teve lugar em Almada, neste fim-de-semana, o congresso do mais antigo partido político nacional, o Partido Comunista Português. Este serviu para reconduzir Jerónimo de Sousa no cargo de secretário-geral, ratificar a constituição do Comité Central e definir a linha de acção comunista nos próximos quatro anos.
O momento dos congressos do PCP que maior polémica cria é aquele em que jornalistas e convidados são... uh... convidados a sair para que o Comité Central seja votado e, por conseguinte, se proceda à eleição do secretário-geral. Longe de olhares e ouvidos indiscretos, não vá o Diabo tecê-las. Passos Coelho anuncio a chegada do "Cornudo" para Setembro e, como estamos quase no Natal e do Belzebu nem o cheiro a enxofre se nota, os dirigentes comunistas estão com a "pulga atrás da orelha", preferindo jogar pelo seguro, fechando-lhe todas as portas, janelas, alçapões e escotilhas.
É evidente que esta é uma justificação completamente absurda e descabida. Se faz algum sentido estarem a inventar coisas destas... Pfff! Querem ocultar o verdadeiro motivo, mas a mim não me enganam. Eu sei muito bem o que se passou depois de terem posto toda a gente na rua e vou partilhar essa informação top secret convosco.
Depois de ter sido reeleito, Jerónimo de Sousa certificou-se que estava tudo fechado a sete chaves e, após essa confirmação, fez sinal a Alexandra Solnado para que começasse a desenvolver o seu trabalho. A medium iniciou os procedimentos necessários para chamar à sala os espíritos que auxiliaram o secretário-geral a definir as directrizes futuras. Chegou o primeiro.
- Camarada, "petanto", Lenine! - saudou Jerónimo - Bem-vindo! Então? Que recomendações tens a fazer?
Uma voz gutural fez-se ouvir na sala:
- Devem matar os czares! Só assim teremos o triunfo final da revolução bolchevique!
- Ó, "petanto", camarada Lenine, nós não temos aqui czares... - lembrou-lhe Jerónimo.
- Não têm? - espantou-se Lenine - Então o que é que têm por cá, para além de pastéis de nata e cocó de cão nos passeios?
- Uh... Temos o D. Duarte Pio, que é o mais aproximado ao czar...
- Quem? Não conheço! Olha, não sei como ajudar. Adeus em russo!
- Mas... "petanto"... Camarada Lenine! - tentou ainda o líder dos comunistas portugueses - Mas...
Foi Alexandra Solnado a interromper:
- Não vale a pena. Perdemo-lo.
Suspirando, Jerónimo fez um gesto agastado na direcção da mulher:
- Chama, "petanto", o camarada Josef, por favor.
Alexandra acedeu prontamente ao pedido e não tardou a ouvir-se nova voz cavernosa:
- Camarada Jerónimo! - exclamou o espírito de Estaline - Em que te posso ser útil, meu amigo? Se for vodka, é só pedir. Lá no Inferno temos muito disso. É para regar as fogueiras que se estão a extinguir. - A voz deu lugar a uma gargalhada sinistra para reaparecer ao fim de alguns segundos -  Nem imaginas o espectáculo que é!
- Faço ideia, camarada Josef - replicou Jerónimo, um sorriso amarelo a nascer-lhe no rosto - Mas não, não é nada disso. Queria mesmo era pedir-te uns conselhos para o futuro aqui do PCP para que a coisa alavancasse. Temos eleições autárquicas para o ano e dava-nos jeito ter um resultado que se visse, estás a perceber?
Um silêncio pesado instalou-se durante uns segundos, insinuando que Estaline estava a meditar sobre o assunto. Como o período já se mostrava demasiado longo, Jerónimo decidiu certificar-se que estava tudo em ordem:
- Camarada Estaline?! Estás a pensar?
- Uh... não! Por acaso, adormeci... - reconheceu o espírito de Estaline - Uh... um conselho? Olha, dá caça ao Trotsky!
- Ao Trotsky? - perguntou Jerónimo, num misto de perplexidade com impaciência - Mas esse já foi caçado! E foi por ti!
- Epá, pois foi! - apressou-se o russo a confirmar - Já não me lembrava. Tenho quase 200 anos, que queres tu?! Que te diga o nome da capital da Rússia, não? - Nova pausa - Olha, mata os filhos do Trotsky!
Desta vez foi Jerónimo a deixar o silêncio tomar lugar, dando a entender o desconforto que o que tinha para dizer lhe causava:
- Uh... "petanto"... - gaguejou - Uh... isso... isso não vai poder ser, camarada. - Respirou fundo e retomou a oratória intermitente - É que... é que nós estamos ao lado deles a apoiar um governo que é... "petanto"... é socialista.
- Vocês o quê?! - vociferou Estaline - Cambada de... de... traidores! Rastapaukanovs do caravelhots!
- Mas... mas, camarada - tentou acalmá-lo Jerónimo - Nós... nós...
Foi novamente Alexandra a alertá-lo:
- Já foi. É tempo perdido tentar fazê-lo regressar. Aquele bigode retorcido não deixa margem para dúvidas.
Jerónimo tornou a suspirar, vendo a sua tarefa cada vez mais complicada. Coçou o queixo, meditativo. Depois de uns segundos, exclamou:
- Alexandra, o primo Fidel! Chama-o, "petanto", por favor!
A medium torceu o nariz, em sinal de reprovação:
- Jerónimo, esse morreu no Sábado passado e andou a semana toda em tournée lá por Cuba. Não sei se teve tempo de chegar ao mundo dos mortos.
- É uma questão de extrema importância para a nossa vida - ripostou Jerónimo - "Petanto", chama lá o defunto, se fazes favor! Se ele já estiver disponível, vem de certeza!
Contrariada, Alexandra Solnado lá começou a ensaiar o contacto paranormal. Uma voz arrastada ecoou:
- "Hasta la victoria, sempre!" - gritou Fidel, num castelhano enrolado - Que passa, camarada Jerónimo? Mal me deixaste aqui chegar, hã? Só tive tempo de acender um dos meus habanos ali num archote!
- Desculpa lá, Fidel, mas estou mesmo enrascado! - admitiu o secretário-geral - Preciso de um conselho teu para levar o capitalismo selvagem de vencida e continuar a mostrar que a ideologia comunista tem lugar no mundo contemporâneo.
- Um conselho, caray?! - interrogou o ex-líder cubano - Olha, experimenta calar o pio a esses reaccionários todos que por aí andam! É agarrar neles, encaminhá-los para o alto da Torre de Belém e incitá-los a praticar bungee-jumping, mas sem elástico! Hã? Que tal?
Jerónimo titubeou, pensando na sugestão e confrontando-a com a realidade nacional. Por fim, murmurou:
- Pois... "petanto"... é uma ideia. Mais alguma?
- Outra - empertigou-se Fidel - E não faço mais nada que não seja dar ideias? Deves pensar que não foi isso que fiz até ao último dia... Vai-se a ver e ainda pensas que era o meu irmão que mandava em Cuba, não? Ai, estes portugueses... Mira, quiero quedar-me ahora descansado. Adiós!
Desta feita, Jerónimo não tentou deter o seu interlocutor. Estava resignado à sua sorte. Encolheu os ombros e, acto contínuo, sacou de um velho bloco de notas que trazia no bolso interior do casaco, começando de imediato a ler o que ele continha.
- "Petanto", protestar. "Petanto", a ditadura do proletariado. "Petanto", não à exploração dos trabalhadores. "Petanto"... "petanto"... avante, camaradas!

8 comentários:

  1. Desculpa mas pareciam um bloco de frangalhos... Estão velhos

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    1. Oh, que esperas tu? A evolução deles só se registou até à revolução bolchevique. De lá para cá, foi só marcar passo. Acho até que os congressistas são sempre os mesmos =P

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  2. Não concordo com essa "teoria da conspiração". Eles mandam sair os estranhos porque no fim dos congressos é cumprido o ritual comunista onde são comidas criancinhas vivas. eheheh

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    1. Isso e engolir sapos, que também passou a fazer parte da dieta comunista =P

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  3. Ahhh aqui escreve-se politica! (Se é assim que lhe posso chamar) grande... you know.... :P

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    1. Aqui escreve-se tudo. No entanto, é tudo uma grande... you know! =P

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    2. Nem tudo, mas para mim politica é aquela base de... you know... xD

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    3. Ora bolas! E eu a pensar que ia resgatar-te para a militância partidária! Grande... you know! =P

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Se vêm para contestar, fiquem quietinhos e caladinhos. Isto não é minimamente democrático e quem manda aqui sou eu! Por isso, só são permitidos afagamentos de ego, mas com jeitinho! Demasiada fricção deixa-me o pelo eriçado, tipo gato assanhado. Não é bonito!