Viver no meio rural pode ser absolutamente fantástico. É respirar o ar puro proveniente do arvoredo, é sentir o perfume das flores campestres, é escutar o pipilar dos passarinhos e o coaxar das rãs, é cagar um pé todo em merda de cavalo, ovelha ou porco, na eventualidade de andar distraído a apreciar as maravilhas do campo. Ah, vale mesmo a pena, acreditem.
Contudo, também existem pontos menos positivos. Por estarem mais longe dos locais onde se podem abastecer de bens de primeira necessidade, os habitantes destes meios acabam por ter maior dificuldade em adquiri-los. É neste contexto que surgem os vendedores ambulantes, vendo aqui a sua oportunidade de negócio. Padeiros, fruteiros, traficantes de droga e ar... ah, desculpem, too much information... Uh... Onde é que eu ia? Ah, sim... Todos acorrem às pequenas aldeias e lugarejos para suprir as necessidades que a população apresenta.
Um dos negociantes mais apreciados da aldeia onde vivo é o peixeiro. Rapaz educado, bem falante e despachado, o vendedor é acarinhado não só pela sua personalidade, mas também pelo que tem para oferecer aos seus clientes. Peixe fresquinho, que ele próprio escolhe na lota de Peniche, capaz de fazer os encantos até do mais guloso dos fãs de peixe-picanha e peixe-courato. Como se já não bastassem estes factos, tem ainda uma característica especial: é extremamente solícito. Tão solícito que não é capaz de se negar a parar a sua viatura fora dos locais habituais de venda quando se encontra em deslocação entre eles. Se um qualquer cliente lhe faz sinal para abrandar a marcha, pois claro está que o nosso amigo pára de imediato.
Eu próprio já tive oportunidade de testemunhar um desses exemplos de prestabilidade do senhor. Um destes dias, um dos fregueses do costume faltou à chamada do sonoro apito da carrinha numa das suas paragens habituais e já só conseguiu apanhá-lo numa outra rua mais afastada, sendo obrigado a correr a distância que os separava em modo Usain Bolt coxo. Ao ver a carrinha do vendedor, levantou o braço, dando a indicação que pretendia que este parasse. Como era expectável, o pedido foi prontamente aceite. A carrinha afrouxou até se imobilizar. Do seu interior, salta o sorridente peixeiro e exclama:
- Hoje atrasou-se, vizinho! Quase que não me apanhava!
O cliente prontificou-se a responder:
- Pois foi! Desculpe lá fazê-lo parar aqui.
- Não tem mal - respondeu o peixeiro - Estou com um bocadinho de pressa, mas tudo se arranja!
Deve ter sido essa mesma urgência que o impediu de desligar o motor da carrinha. Dirigindo-se à traseira desta, abriu as portas e mostrou ao cliente o que estava para lá delas.
Sabendo exactamente o que queria, nem hesitou no pedido.
- Olhe, arranje-me aí umas três postas de salmão. É fresquinho, não é?
- Fresquinho? Mais fresco só o Pólo Norte, homem! - disse o peixeiro, não querendo deixar margem para dúvidas - arranja-se já aqui.
Acto contínuo, agarra num exemplar da espécie com uma mão e a outra procura o cutelo para começar a retalhá-lo. Três golpes certeiros e igual número de postas ficaram ao dispor do freguês, que olhava o processo, maravilhado. Olhava e cheirava, porque o tubo de escape nunca deixou de emitir gases poluentes durante toda a manobra.
Nunca o salmão fumado o foi de forma tão evidente.
Cavalos aos tiros, homens aos coices, anões pernaltas e gigantes atarracados. Sem filtro, sem juízo, muita parvoíce e pouca graça. Aqui ninguém vem ao engano!
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Ahahaha, verdade! É mesmo assim, raramente desligam a carrinha e lá fica o peixe a ser aromatizado vagarosamente =)
ResponderEliminarBeijinhos
Também conheces este modus operandi? Ah, então está generalizado. Seria um fartote para a ASAE =P Beijinhos
EliminarSim, está generalizado nas pequenas aldeias, o peixe é realmente fresco, e por ser tão fresco precisa de um aquecimento. Melhor que tubo de escape? Não existe!
EliminarOra aí está uma belíssima justificação! Vou passá-la ao senhor peixeiro para que ele tenha que responder quando for abordado pelos inspectores da ASAE =P
EliminarFaz isso sim, escapa na certa! =)
EliminarOu então não! =P
EliminarLol...
ResponderEliminarR: Ahahaha obrigada :)
Parabéns também para a tua sobrinha!
Obrigado. Ela agradece... ou eu em nome dela =P
EliminarCaro Lápisamigo
ResponderEliminarGostei; gostei especialmente de, transcrevo: É neste contexto que surgem os vendedores ambulantes, vendo aqui a sua oportunidade de negócio. Padeiros, fruteiros, traficantes de droga e ar... ah, desculpem, too much information... Boa malha!
É neste contexto que surgem os vendedores ambulantes, vendo aqui a sua oportunidade de negócio. Padeiros, fruteiros, traficantes de droga e ar... ah, desculpem, too much information...
Olha o nosso Henrique, que há muito que por aqui não era visto! Ora seja bem-vindo de volta! =D Como sabes, o interessante da história pode até nem estar no seu conteúdo, mas antes na forma como é contada. Tem que se enveredar por aí para manter os neurónios em alta rotação ;) Obrigado pela visita! Um abraço!
EliminarADENDA FALHANÇO TOTAL
ResponderEliminarMais um post da SAGA DA ALZIRA que hoje mete assalto. Polícia e xilindró. Pouco recomendável para pessoas sensíveis – ou de doentes cardíacos.
Como é habitual, peço o obséquio da maior divulgação do texto. Obrigado
Henrique, o Leãozão (muito envergonhado…)
E que encatado que eu tenho ficado com a saga da Alzira. Quase tão encantado como fico pelo motivo de aqui te apresentares envergonhado! =P Melhores dias virão, Henrique amigo... Se mudarem de treinador e presidente! =P Grande abraço. Lá irei visitar a dona Alzira =)
Eliminaracho que isso era porque o peixe era tão fresco tão fresco que se ele o vendesse naquelas condições os outros peixeiros iam-lhe ao pêlo, visto que ele lhes ia roubar todos os clientes!
ResponderEliminarbeijinhos, Noelle :)
Eu só não te digo que ele não tem concorrência porque isso destruiria a tua teoria por completo! Ups, já disse! =P Beijinhos
Eliminaré desta gente genuína que eu gosto!!! :)
ResponderEliminarEu também. Não gosto muito é do peixe aditivado, se é que me faço entender! =P
EliminarAqui na minha zona ainda vem o cabrão do padeiro, que mete a mão em cima da buzina e só para quando as velhas lhe rodeiam a carripana.
ResponderEliminarPeixeiro é que já há muitos anos que não temos. Hoje em dia quem quiser salmão fumado, vai ao Pingo Doce e compra fresco. Depois passa no quiosque, compra um livro de mortalhas e vai fumá-lo num banco do jardim. eheheheheh
Aí vai um padeiro? Um? Amigo, aqui começam às 7 da manhã e só acabm às 3 da tarde, que é quando passa o último! Aqui só não faz açorda quem não quiser, já que isto parece um encontro nacional de padeiros! =P
EliminarOlha, também é boa ideia fumá-lo assim. Como vês, há muitas maneiras de matar moscas =P
Serviço 2 em 1 :p
ResponderEliminarr: Eu digo-te os queixumes :o obrigada!
Serviço dois em um? Então? Primeiro vende-se o peixe e depois emporcalha-se, é? =P
EliminarAhahah, essa foi boa.
ResponderEliminarAqui só há coisas boas! Uh... dependendo do ponto de vista! =P Muito obrigado =) Sê bem-vinda ;)
EliminarAgora apetece-me comer salmão fumado. Thanks. Primeiro, a voz pedófila, depois, o salmão... O que virá a seguir!?!?
ResponderEliminarÉ um prazer fazer serviço público =)
EliminarQual é coisa qual é ela, que é fumado antes de o ser... este sim, seria o título adequado ;)
ResponderEliminarVêm para aqui estas pessoas mandar postas de salmão, neste caso, sobre os teus posts... eu não admitia!!!
Andas a saber mais do que te ensinei. Vê lá se o Pai Natal se esquece de ti =P
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