A atribuição do Prémio Nobel da Literatura deste ano a Bob Dylan deixou o mundo inteiro perplexo e metade dele a querer invadir Estocolmo para partir as fuças ao júri da Academia Sueca.
Eu não entendo o porquê de tanta cólera por se atribuir uma distinção a um músico quando esta foi criada para premiar escritores. É o mesmo que dar o prémio MVP da época na NBA ao Messi. Que mal tem isso? O que eu contesto é a entrega do Nobel da Literatura a este músico em particular. Porquê Bob Dylan e não Quim Barreiros? O outro toca gaita de beiços (harmónica ou lá o que é) e o bigodudo de chapéu mais famoso do nosso burgo toca acordeão. «Hey, mister tambourine man, play a song for me. I'm not sleepy and there is no place I'm going to...» e mais umas quantas parvoíces ininteligíveis... Então e isto? «Qual é o melhor dia para casar sem sofrer nenhum desgosto? O 31 de Julho porque depois entra Agosto». Hã? Não é bem mais profundo? Saramago ter-se-á sentido inferior ao escutar estas tocantes palavras pela primeira vez, estou capaz de apostar.
Mas há mais. A habilidade portuguesa para a escrita não se esgota no "mestre da culinária". Atente-se bem na riqueza poética dos versos desse grande mago da literatura nacional que responde pelo nome de Marco Paulo: «Uma lady na mesa, uma louca na cama. Com a maior safadeza, você diz que me ama. E na minha cabeça, desvario e loucura. Quando você começa, ninguém mais a segura«. Vai buscar, Bob!
No entanto, não devemos cingir-nos somente aos consagrados, cujas estrondosas carreiras só encontram paralelo no assombroso percurso trafulha de José Sócrates. Devemos alargar horizontes e deter um olhar sobre os grandes valores emergentes da cultura erudita em Portugal. Mas só com máscaras para soldar. O Diabo está sempre pronto a tecê-las e não queremos desgraças oculares ao contemplar algo tão fascinante. Que dizer da nova coqueluche nacional, Maria Leal? Bem sei que um Nobel da Literatura precisa de demonstrar os seus argumentos durante todo um longo caminho passível de atento escrutínio por parte da crítica literária, mas quem já abriu uma excepção ao atribuir o prémio a um músico também pode voltar a quebrar as regras e outorgá-lo a uma estrela em ascensão. Como passar ao lado de uma letra deste calibre :«Dialectos da ternura foram mais que para mim 11 minutos de história interminável e sem fim. Extravagância nos teus olhos, como um óleo por pintar, porta fechada numa tela sem azul e sem mar. Ooooh, ooooh, Hoje Maria Leal aqui só para ti»? Reparem na excelência gramatical e lexical, na diversidade de temas e como convergem após a escolha de sentidos opostos neste labirinto filosófico. Cereja no topo do bolo, a entrega da autora na assinatura da obra. Não fosse dar-se o caso de conspurcar a imaculada composição para aqui transcrita e até era capaz de afirmar: foda-se, isto é do caralho!
Os membros do júri da Academia Sueca conservam, segundo as últimas informações, toda a dentição, apesar das ameaças de extracções sem anestesia. Todavia, elas tornar-se-ão efectivas se continuarem a ignorar o que se faz de extraordinário em Portugal. Quem vai acertar contas com vocês sou eu. Eu e o Manuel Maria Carrilho, que consegue aliar a sua reconhecida elevação cultural a uns incríveis dotes de kickboxer. É só para ficarem sabedores!
Cavalos aos tiros, homens aos coices, anões pernaltas e gigantes atarracados. Sem filtro, sem juízo, muita parvoíce e pouca graça. Aqui ninguém vem ao engano!
O Que Nacional é bom. Mas não exageremos!! Lool Essa da Maria Leal, ai valha-me são cricálho!! Volta Zé Cabra, estás perdoado.
ResponderEliminarGosto do que é Nacional, nem tudo...Mas BOM BOM, é o teu sentido de humor, esse sim, sendo Nacional, é BOM! Lool
Olha, Bjocas e passa lá :-)
Agora imagina um dueto entre esta musa e Zé Cabra. Espera aí! Onde é que vais? Não faças isso! Essa janela é muito alta! :P
EliminarMuito obrigado :) É bom ter-te por aqui. Vou lá, vou lá! Beijinhos
juro que não sei como foste capaz de entender o que a Maria diz na música, porque eu só ouvi uns murmúrios uns ohs pelo meio xD agora que li o que a senhora diz realmente vejo-me obrigada a concordar contigo, é realmente uma letra muito profunda!
ResponderEliminarbeijinhos, Noelle :) https://supergirlinconverse.blogspot.pt/
Isto só foi possível depois de um apurado exercício de descodificação do discurso de pessoas que sofreram um AVC entre os 10 e os 15 anos. Vou dar um workshop, se estiveres interessada :P Beijinhos
EliminarUma vez mais me curvo ( mas não demasiado, porque a quem muito se curva o rabo lhe aparece ) a um texto tão primorosamente escrito na bela e rica Língua de Camões. Suponho que o dito em horas de euforia ou raiva também proferia palavrões, não será verdade?
ResponderEliminarMas, meu querido escriba, podes ir tirando o cavalinho da chuva. Jamais um português, para além de Saramago e sabe Deus por alma de quem, será agraciado pela distinta Academia lá dos nórdicos. São os Nobel e os Euro Festivais...É tudo farinha do mesmo saco!
Se um dia houver um Prémio Nobel para o melhor escritor de blogues, irei propor o teu nome para nomeação, não sei é se eles te irão premiar ou não. Isso, já não está na minha mão...
Parabéns e um beijinho da Maria.
Vais desculpar, mas voltei porque me ocorreu que já um outro português foi agraciado com um Nobel: o Professor Egas Moniz, mas este, como bem sabes, foi distinguido com o Nobel da Medicina.
Eliminar:)
Estimo em ver a vénia calculada, querida Maria. Demasiada curvatura de coluna deixar-te-ia descomposta e nós não queremos nada disso por aqui. Na minha baiuca, só eu tenho o direito de descer o nível até aos patamares mais rasteiros :P
EliminarPois que será difícil voltarmos a ter um Nobel. É por saber dessa dificuldade que fui bem veemente nas ameaças. Espero que sejam suficientes. Já no Eurofestival, as nossas esperanças são maiores. Para o ano vai lá aquele cantor muito bom... o... ai, como é que ele se chama? Ah, o Lobo Antunes :P
Sinto-me deveras lisonjeado por essa indicação para o Nobel dos blogs. Não sei é se Dom Pipoco achará piada a essa tua traição :P
Camões não terá proferido tantos palavrões como os apresentados neste texto, se excluirmos a ocasião em que ficou zarolho. Já Bocage... :P
Imperdoável essa falta de memória no que toca à distinção de Egas Moniz numa altura em que se vê por aí tanta gente que só pode ter sido lobotomizada :P
Beijinhos, Maria. Sempre um gosto receber-te :)
O que é Nacional é bom, de facto, pena é que não se dê valor aos verdadeiros talentos!
ResponderEliminarEstaremos com certeza a falar de nomes diferentes daqueles aqui apresentados, não é? Um Mickael Carreira, quiçá uns D.A.M.A. :P
EliminarOra bem, isto é que é um texto digno de um Nobel, para quando a Academia Sueca decidir classificar a crítica literária como literatura.
ResponderEliminarSó um pequeno reparo:
Então e o Zé Cabra?
Deixei tudo por ela, deixei, deixei... eheheheheh
A sério: o texto está ***** estrelas. :)
Já estivemos mais longe de ver isso acontecer, não estivemos? Aliás, julgo que até uma notícia do Correio da Manhã começa a ser texto susceptível de arrebatar o galardão :P
EliminarSabes que tive de deixar alguns nomes de fora. Quis destacar a pura nata :P
Muito obrigado, amigo Zé! :D
Então e os Íris e o "Atira'tó mar e diz que te empurrarem... Beija-me na boca e chama-me Tarzan..." O que é nacional é bom mesmo :))
ResponderEliminarBem lembrados, Bem lembrados! Não faltam letras de grande qualidade no cancioneiro popular português. É só escolher :P
EliminarEu não fiquei nada espantada. Nunca percebi quais são os critérios de atribuição!
ResponderEliminarDepois da entrega do Nobel ao nosso Bob, julgo que o único critério obrigatório é a composição de um texto com duas palavras. A partir daí, tudo é permitido. Acho que a escolha assenta depois num método muito rigoroso: o um-dó-li-tá. Por isso, prepara-te. Para o ano podes ser tu :P
EliminarFartei-me de rir com este texto, o que é nacional é bom, mas o que tens aí é do piorio... Pena não conseguires colocar a dança da senhora por palavras, que para mim é muito pior que a música em si...
ResponderEliminarBeijinhos
Quem disse que não sou capaz de colocar em palavras a dança da senhora? É bem mais simples que descrever a música dela. Ora repara: é a simbiose perfeita entre os movimentos de uma múmia com os músculos retesados do pescoço para cima e um doente de Parkinson do pescoço para baixo :P
EliminarEu fiquei bastante surpreendida, tal como fique quando foi Saramago. Mas, tal como dizem acima, aquelas votações devem ser mais ou menos, como o festival da canção.
ResponderEliminarOs Nobel da Literatura não são para ser entendidos. São para ser comprados depois de distinguidos. Até ali, ninguém os conhece. Este ano, quiseram inovar. Bob Dylan toda a gente conhece, só que noutra vertente. Modernices :P
EliminarBem... tudo ia pelas mil maravilhas enquanto falaste nos dotes do tio quim e do sr. marco paulo, ate aceitaria que pudesses falar no Toy, estupidamente apaixonado, ou até mesmo no ja falecido Dino Meira, cujo grande feito ele escreveu e reverteu para canção: "voltei, voltei, voltei de lá, ainda ontem estava em frança e agora ja estou ca..."
ResponderEliminarMas quando partiste para Marial Leal, nunca pensei... nunca pensei que alguma vez alguém conseguisse perceber a letra, para a escrever... mas tu sim... tiro-te o chapeu :p
Sabes que sou muito bom a entender dialectos de ternura. Sou igualmente óptimo em línguas de amor, sotaques de amizade e pronúncias de rancor :P Tira o chapéu, sim. Não te ficava muito bem :P
EliminarAinda hoje o meu tutor disse que o Nobel deveria ter sido ganho pelo Quim Barreiros ahah :D ao fim e ao cabo, o Mundo ía rodar no mesmo sentido... nunca dei muita importância ao prémio Nobel :) e já está mais que provado que nem sempre os vencedores são os que realmente merecem, como acontece com quase tudo nesta vida :P
ResponderEliminarSegundo me contas, começa a formar-se uma corrente defensora dos atributos literários de Joaquim "El Bigodudo" Barreiros. No entanto, convém ressalvar que eu fui o iniciador desta tese e que o teu tutor aderiu à causa 24 horas depois :P
EliminarPois, realmente... Aquilo é literatura para malta que dorme com a "Eneida" à cabeceira. Muito obrigado pela subtil referência à minha pessoa e ao facto de ainda não ter sido devidamente distinguido. Ah, não era de mim que estavas a falar?! Desculpa-me, o mundo continua a girar no mesmo sentido e eu continuo a achar que estou no centro dele :P
Fiquei totalmente sem palavras quando soube dessa notícia,é um pouco estranho,cá na minha mais sincera opinião,atribuírem o prémio nobel da literatura a um cantor,mas,enfim,eles lá sabem de si,eles que se cuidem!! Boa semana para ti e muitos beijinhos!!
ResponderEliminarTu ficaste sem palavras, o Bob dylan ficou sem gaita, o Quim Barreiros sem acordeão, o Lobo Antunes sem nada no estômago... Enfim, uma série de tragédias :P Muito obrigado. Para ti também ;) Beijinhos
EliminarPor mais geniais e brilhantes que sejam as letras do Dylan, dizem, não se podem comparar a uma obra vasta de livros ou 1 livro que seja. Nem ele concorda, pelos vistos!
ResponderEliminarQue 11 minutos são esses que ela fala, será... não... 11 minutos, apenas? Ai coitada, por isso está tão tolinha daquela cabeça.
Adoro os painéis laterais, já te tinha dito, não? Adoro!
Dizem que é, dizem que é... Sinceramente, não conheço muito bem a obra do homem, mas lembro-me da letra do "Mr. Tambourine Man" ser escalpelizada no "Mentes Perigosas", numa cena passada na sala de aula. Por isso, a genialidade do tio Bob já é coisa mais que sabida para os americanos. Daí até lhe atribuírem o Nobel da Literatura por causa das letras das suas músicas é que vai um passo que ninguém devia ter dado. E o homem concorda com isto =P
EliminarOs painéis laterais? Estás a falar de quê, rapariga?
(Curiosamente, na altura em que estou a escrever isto está o Herman a dizer ao Ruy de Carvalho que o Nobel da Literatura está bem atribuído, mas também podia ter sido para o Quim Barreiros. Estes humoristas só me plagiam =P)