Das medidas restritivas impostas pelo Governo no actual quadro do estado de emergência, umas tornaram-se tão difíceis de compreender como os quadros da Paula Rego ou o uso que a Joana Vasconcelos dá aos tampões.
Uma dessas medidas é a proibição da venda de livros nas grandes superfícies. Num país onde o gosto pela literatura nunca rivalizou com a paixão pelo futebol, o que explica a fluência e a eloquência com que se expressam distintos tribunos como Jorge Jesus, António Salvador ou Cristiano Ronaldo (parabéns, CR7), tomar medidas deste calibre não constitui grande estímulo à leitura.
Com os escaparates vazios de obras literárias, os grandes lojistas não perderam tempo a optimizar o espaço. Tornou-se pois viral uma imagem na qual se via enormes embalagens de papel higiénico no lugar outrora ocupado pelos livros.
Que conclusões é que daqui se podem retirar? A primeira, inevitável e avassaladora, é a de que os gerentes de loja acham que os portugueses, na sua generalidade, têm um intelecto idêntico ao de uma formiga de asa e não conseguem ler mais do que aquilo que habitualmente vem escrito no papel higiénico e, não, não me estou a referir à embalagem, mas ao rolo.
A segunda, que me parece incontestável, é a de que os livros, quando ressurgirem, serão colocados naquele que era até há pouco tempo o feudo do papel higiénico. Será pois o pretexto perfeito para, finalmente, darmos o devido uso às criações de José Rodrigues dos Santos, Pedro Chagas Freitas e Gustavo Santos.