domingo, 7 de fevereiro de 2021

Nos hipermercados, nada se perde, tudo se transforma

Das medidas restritivas impostas pelo Governo no actual quadro do estado de emergência, umas tornaram-se tão difíceis de compreender como os quadros da Paula Rego ou o uso que a Joana Vasconcelos dá aos tampões.

Uma dessas medidas é a proibição da venda de livros nas grandes superfícies. Num país onde o gosto pela literatura nunca rivalizou com a paixão pelo futebol, o que explica a fluência e a eloquência         com que se expressam distintos tribunos como Jorge Jesus, António Salvador ou Cristiano Ronaldo (parabéns, CR7), tomar medidas deste calibre não constitui grande estímulo à leitura.

Com os escaparates vazios de obras literárias, os grandes lojistas não perderam tempo a optimizar o espaço. Tornou-se pois viral uma imagem na qual se via enormes embalagens de papel higiénico no lugar outrora ocupado pelos livros.

Que conclusões é que daqui se podem retirar? A primeira, inevitável e avassaladora, é a de que os gerentes de loja acham que os portugueses, na sua generalidade, têm um intelecto idêntico ao de uma formiga de asa e não conseguem ler mais do que aquilo que habitualmente vem escrito no papel higiénico e, não, não me estou a referir à embalagem, mas ao rolo.

A segunda, que me parece incontestável, é a de que os livros, quando ressurgirem, serão colocados naquele que era até há pouco tempo o feudo do papel higiénico. Será pois o pretexto perfeito para, finalmente, darmos o devido uso às criações de José Rodrigues dos Santos, Pedro Chagas Freitas e                             Gustavo Santos.

25 comentários:

  1. Será que os livros não estão escondidos no meios dos rolos ?
    Vou investigar ! (;

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  2. Supostamente, era uma medida para evitar que as livrarias sejam ainda mais prejudicadas, visto que também fecharam. Ainda assim, é uma decisão que me deixa com várias dúvidas.

    Convenhamos que o Ronaldo está a falar muito melhor :p

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    1. Acho que foi mais uma medida para que os pequenos comerciantes não tivessem possibilidade de argumentar que as grandes superfícies estavam a ser beneficiadas.
      Está... Principalmente quando está calado :P

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  3. Nao concordo com este novo confinamento relativamente a essas novas regras de vendas.
    No primeiro confinamento essas secções estavam abertas, agora já não podem.
    Não comento.

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    1. Foi a aplicação de uma espécie de justiça salomónica, mas que penaliza os pequenos livreiros, claro.

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  4. Não concordo com essa regra, que tanto afeta o já pouco interesse da população...
    Mas agradeço o teu final com humor!

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    1. Há medidas que têm sido bastante duras para aqueles que dependem do seu pequenito negócio. É assim com os pequenos livreiros.
      Humor é o que por cá se faz. Ou tenta :P Welcome!

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  5. This is madness! We can still buy books in Scotland. Book shops are closed but supermarkets and other places that are open still sell them. It is a way of controlling us isn't it. Telling us what we can and cannot buy. Or are they using the books for something else perhaps?

    I didn't get your Joana Vasconcelos so googled it! Interesting artwork hmm talking of tampons check this out:

    https://www.bbc.co.uk/news/uk-wales-54685886

    I am so glad this was not in Scotland, we are sensible sort of! Watch out Portugal....tampons might me next! The world really has gone crazy. :-|

    Have a good week and listen to music :-D

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    1. During the first lockdown, it was also like that here in Portugal, I guess. I can't remember. It was a long, long time ago :P
      As you can see, Portuguese art creators are unortodox :P
      Thank for your kindness and joy. A good week for U2. Not for you too. For u2 :P

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  6. Será que há um mapa de perdidos no supermercado, acho que deviam vender livros pois uma vez que estão em casa sempre podia ler mais
    http://retromaggie.blogspot.com/

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  7. É raríssimo senão quase nula a compra de livros em hipermercados. Acho que caminhamos para uma era cada vez mais digital mais individualista, o que me desassossega o espírito.
    Neste confinamento tudo é mau e tudo está mal, mas o exemplo vem de cima, prontos vou calar-me[risos]

    Toca a teres um dia bonito, LR :)

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    1. É assim tão rara? Não tenho dados que consubstanciem essa afirmação, sou sincero. Está muita coisa mal e sente-te à vontade para discorrer sobre elas :P
      Beijos e um bom dia também para ti ;)

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  8. Já agora, se as lojas de roupa estão também fechadas, porque é que se vendem nos hipermercados ? (;

    beijinho

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    1. A roupa está a ser vendida nos hipermercados? Tinha a sensação que também não se podia vender nesse canal de distribuição. Beijinho

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    2. Pelo desculpa, há muito tempo que não ia um hipermercado, fui hoje a um, e a zona da roupa esta interdita.
      Correção feita ! (: Beijinho

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    3. E assim se manterá nos próximos 15 dias ;) Ora essa, sem stress ;) Beijinhos

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  9. Nem sei quem é o António Salvador!
    Mas conheço o António Costa, que tem umas ideias fantásticas😟😟

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    1. É o presidente do Braga. É um orador de excelência :P
      Tem, tem... Ainda vai sugerir que, quando desconfinarmos, o façamos montados num unicórnio.

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Não é por nada, mas suspeito que esses lojistas já estejam a pensar muito à frente. XD Hoje em dia, já é possível encontrar os grandes clássicos da literatura (García Lorca, Pablo Neruda, Mário de Andrade, José Saramago, Carlos Drummond Andrade, Camões, etc.) em rolos de papel higiénico. Este facto chamou-me deveras à atenção no ano passado, quando vi esses mesmos rolos a serem vendidos na feira do livro do Porto. Agora, não me admirava de encontrar esses mesmos rolos de papel nos supermercados. Era uma forma de contornar as medidas do governo. Porém, e infelizmente, não é bem isso que acontece e nesse aspeto concordo com o teu ponto de vista.

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    1. Isso é mesmo verdade? Já é possível limpar o cu à obra dos grades vultos da literatura? Hum... Não sei se queria, sabes? Não é por nada. É que ter as armas e os barões assinalados no traseiro não me agrada assim tanto :P

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    2. Nem eu, mas as pessoas inventam cada coisa. Provavelmente, depois das cuecas que se auto-limpam, alguém irá se lembrar de colocar excertos de obras portuguesas nas latas da Coca Cola em substituição do rótulo.

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    3. Tendo em conta que até foi o Pessoa a inventar o primeiro slogan da Coca-Cola, nem era de estranhar assim tanto :P
      Momento cultural; o primeiro slogan publicitário da mais famosa marca de refrigerantes era "primeiro estranha-se, depois entranha-se". De Nada :P

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Se vêm para contestar, fiquem quietinhos e caladinhos. Isto não é minimamente democrático e quem manda aqui sou eu! Por isso, só são permitidos afagamentos de ego, mas com jeitinho! Demasiada fricção deixa-me o pelo eriçado, tipo gato assanhado. Não é bonito!