A vantagem de se viver num lugar onde os sons mais característicos são o chilrear dos passarinhos e os arrotos dos sorvedores de sumo de cevada nos locais onde a sua venda se desenrola a bom ritmo é a de conseguir captar com toda a facilidade qualquer outra manifestação sonora que não seja uma das referidas.
Foi por essa razão que, na tarde de ontem, acompanhei atentamente uma discussão entre um casal meu vizinho no interior da sua residência.
A alterada conversa, com os intervenientes numa acesa troca de argumentos que recrudescia de tom a cada frase proferida, foi ganhando contornos de escândalo aldeão. Adivinhava-se o clímax, apesar de não conseguir descortinar àquela distância que contornos teria. Um prato atirado à parede? A passagem para o patamar da estalada à Pai Natal e da cabeçada à Cais do Sodré? Inspirados pelo Campeonato do Mundo que decorre, a invenção da modalidade "lançamento do cônjuge pela janela"?
Felizmente, não chegámos ao nível da despesa com loiça nem ao da fractura da cervical. O elemento masculino do casal, numa repetição cadenciada e quase harmoniosamente cantada, disse à companheira: 'vai p'ó caralho».
Dali em diante, nada mais do que se passou naquele lar foi dado a conhecer ao imenso mundo para lá das suas paredes. Volvidos cinco minutos, a porta da entrada da habitação abriu-se de rompante, ela e ele a saírem em passo apressado em direcção ao automóvel estacionado na via pública, ele a abrir a porta do condutor, ela a abrir a porta do passageiro da frente, os dois a entrarem na viatura e a deixarem o seu destino seguir nas estradas sabe o Diabo de onde.
Como referi, não tive acesso ao que foi dito após o atirar da épica ordem. Todavia, vou atrever-me a fazer um exercício de adivinhação da conversa que se seguiu e que passo agora a partilhar convosco:
- Não consigo ir sozinha. - disse ela, baixando os olhos para o chão. - Não sei o caminho.
- Não tem problema - respondeu ele de pronto, audivelmente mais calmo - Eu vou contigo e ajudo-te a chegar lá.
- Fazias isso por mim, meu amor? - quis saber ela, deixando o entusiasmo traí-la.
- Claro, querida! O que é que eu não faço por ti? - Sorriu, voltando costas e afastando-se dela - Vou só buscar o mapa e partimos logo depois!
Cavalos aos tiros, homens aos coices, anões pernaltas e gigantes atarracados. Sem filtro, sem juízo, muita parvoíce e pouca graça. Aqui ninguém vem ao engano!
Oh meu Deus, o que eu me ri com este post xD. O relato da discussão entre esse casal está hilariante ahahahah xD.
ResponderEliminarOs meus vizinhos já tiveram discussões que também dariam umas boas histórias xD.
Beijinhos,
Cherry
Blog: Life of Cherry
Tu ris-te, mas deve ter havido choradeira =P Há sempre disso em todo o lado. Beijinhos ;)
EliminarNo apartamento por cima do meu mora um casal com a filha (já com 18 anos). O casal em si é raro discutir mas a mãe e a filha discutem frequentemente e às vezes parece que quase se matam! Vizinhos...
ResponderEliminarSerá aí o início da III Guerra Mundial? =P
EliminarVizinhos... tenho a sorte de não ouvir muitas discussões no meu prédio.. e ainda bem. 😊
ResponderEliminarUma afortunada, portanto =P
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